Aproveitando o bom tempo, fomos dar uma volta a pé em McLean, VA. A pequena cidade fica próxima à capital Washington DC. Com o início da primavera, é incrível observar a quantidade de áreas verdes inseridas na cidade. A maioria das casas tem jardins com árvores e, além disso, pequenos parques são mantidos em meio a edifícios comerciais e shopping centers. É importante lembrar que estamos falando do maior centro de compras da região, um dos maiores dos EUA.
De dentro de um dos pequenos parques, é difícil para um paulista imaginar que estamos no meio de uma metrópole. As árvores e pequenos riachos parecem intocados, como se tivessem conseguido sobreviver às intervenções humanas:
Estive em São Paulo em Março último e presenciei uma das maiores enchentes dos últimos tempos. Pela TV, carros cobertos até o teto e pessoas sendo resgatadas por helicópteros. O caos generalizado foi imediatamente atribuído ao atual prefeito. Será mesmo que a culpa pode ser concentrada em uma pessoa? Quem sabe a culpa não é de todos, por ter permitido que o crescimento desequilibrado resulte em situações caóticas como a vivida no mês passado?
Ao retornar aos EUA, minha maior curiosidade foi tentar comparar as duas áreas, em termos de permeabilidade. A quantidade de cimento e concreto utilizada em São Paulo é conhecida por nós, mas como comparar com outras áreas do mundo? A solução mais fácil e rápida foi utilizar o Google Maps:
Num primeiro momento, achei que tinha cometido um erro e que as escalas utilizadas estavam incoerentes. Não. As duas imagens representam a mesma distância (2000 pés). Lado a lado, a diferença é notável: No primeiro caso, Tyson´s Corner, as áreas verdes estão presentes de forma equilibrada em diversas regiões. No segundo caso, São Paulo, temos o grande triângulo verde formado pelo Parque do Ibirapuera, e quantidade mínima de áreas verdes em outras regiões. O cinza que conhecemos é o mesmo visto de cima. A noção de permeabilidade, que parece tão simples, é intrigante nesta comparação.
Criticar ou achar culpados é fácil, o maior desafio é entender os erros do passado e olhar para frente e tentar corrigí-los da melhor forma possível. Isto está acontecendo em Tyson´s Corner neste momento, onde grandes obras estão sendo feitas para melhorar a vida de pedestres e ciclistas, uma das deficiências da área, que foi concebida para automóveis. No caso de São Paulo, como fazer, e principalmente, por onde começar?
Parabéns pela sensibilidade desta comparação. Vamos mandar isto para nossos políticos, prefeitos e vereadores. Quem sabe eles começam a pensar melhor antes de promover genocídios ambientais.
Sugiro também colocar em pauta, este importante tema nos cursos de pós-graduação em “Gerente de Cidade” da FAAP-Fundação Armando Alvares Penteado de São Paulo. O curso é excelente e faz a diferença na hora de formar bons gestores de nossas cidades.
Um abraço à todos
Profº Alexandre Amato
aanobile@faap.br
No caso de São Paulo temos, de um lado, as favelas que engessaram a cidade e de outro, a força da grana que ocupa todos os espaços permeáveis. Onde deveria haver chão, há cimento ou asfalto. Neste exato momento, árvores estão sendo derrubadas para dar lugar a mais pistas na marginal tietê. Aqueles mínimos espaços com tipoanas, azaléias e grama que humanizavam um pouco aquele lugar horroroso está sendo substituído por concreto e asfalto.O governo promete as tais ‘medidas compensatórias’ como o plantio de milhares de mudas, por exemplo. No entanto, os espaços perdidos para os automóveis não retornarão. E assim, mais um pouco de área verde e permeável sucumbe ao transito enquanto a cidade piora um pouco mais.
O que o governo deveria fazer para melhorar o transito imediatamente mas não o faz porque não tem coragem é retirar das ruas os 30% de automóveis que estão circulando irregularmente pelas ruas. Ou seja, aplicar a lei. Seriam 1.800.000 de automóveis a menos e espaços a mais. Outra medida radical mas necessária seria decretar uma moratória. Nenhum automóvel poderia ser vendido durante um certo período, simplesmente porque não há espaço para colocá-lo nas ruas. Caso contrário, a cidade vai parar. Já tem até data marcada para o armagedom urbano, segundo alguns urbanistas: Novembro de 2012.
A longo prazo, investir pesadamente no metrô e construção de vias subterrâneas, liberando a superfície para os pedestres. A criação de um imposto sobre automóveis e combustíveis especificamente para esse fim (metrô) é uma idéia antiga que precisa ser implantada. Estamos ampliando a malha metroviária ao ritmo de 1 km por ano. Ou seja, vamos levar 150 anos para termos uma rede minimamente eficiente.
Mas estamos falando de solo, de permeabilidade, de áreas verdes. O que o poder público deveria fazer é adquirir espaços privados e torná-los públicos, medida conhecida como desapropriação. E não construir nada nesses espaços mas tão somente paisagismo. O Plano Diretor é o instrumento legal para isso, através do dispositivo chamado Direito de Preempção. Temos dinheiro, recursos legais e – estou certo disto – apoio da população para mudar São Paulo. Falta apenas vontade política e união de esforços das várias esferas de governo.